13 ABRIL
O catolicismo brasileiro tem percebido uma queda numérica dos seus fiéis. Há uma estimativa de que seremos menos de cinquenta por cento em todo o Brasil nos próximos anos. Em algumas capitais, isso já é um fato.
O catolicismo brasileiro tem percebido uma queda numérica dos seus fiéis. Há uma estimativa de que seremos menos de cinquenta por cento em todo o Brasil nos próximos anos. Em algumas capitais, isso já é um fato.
Mesmo a Igreja não tendo que buscar o proselitismo, essa sangria é algo que deve colocá-la em situação de autoanálise acerca da sua prática evangelizadora e pastoral. O catolicismo de censo e de quantidade já não oferece uma segurança à importância da Igreja, enquanto instituição, para a sociedade brasileira.
O protestantismo, principalmente o de linhagem neopentecostal, está ‘invadindo’ de modo capilar e permanente os vários espaços geográficos e de formas poder. As pesquisas e matérias jornalísticas estão trazendo esses dados e corroborando um fenômeno para o qual a catolicidade não atentou. Quando paramos para analisar, mesmo que de modo geral, o que tem potencializado esse avanço são alguns caminhos, que na minha percepção, podem ser:
1) – A presença nas periferias das grandes cidades: o Brasil viveu, principalmente depois da década de quarenta, um forte e numérico êxodo rural. As populações que viviam nas comunidades interioranas, por necessidades econômicas e estruturais, buscaram outros modos de subsistência nas cidades. Com isso, o crescimento das periferias das grandes cidades foi ganhando corpo e desafios geográficos e sociais. A Igreja não buscou uma adequação das suas atividades pastorais, considerando essa reviravolta demográfica. A sua conjuntura eclesial, ainda piramidal, sacramentalista e sacerdotalizada, com pouca abertura ao maior protagonismo missionário dos fiéis leigos e ao uso da Sagrada Escritura, além das celebrações litúrgicas, fez com que muitas lacunas fossem preenchidas pelos movimentos pentecostais. A Igreja acomodou-se ao que era vivido pelas tradições das religiosidades sazonais. Não percebeu que existia uma corrosão das camadas mais populares do catolicismo tradicional, que não tinham uma formação mais consistente acerca da Palavra de Deus e das verdades da fé sobre a própria Igreja, tornando-se assim vulneráveis aos apelos do neopentecostalismo.
2) – O uso intenso dos meios de comunicação: também depois da década de cinquenta à de sessenta, os meios de comunicação começam a ser apontados como as novas maravilhas da modernidade. A própria Igreja Católica o reconheceu no Concílio Vaticano II (cf. Inter Mirifica). Estes instrumentos podem massificar mensagens. O particular pode chegar ao todo. O mínimo pode tornar-se máximo. Os protestantes entenderam bem essa dinâmica e até os nossos dias investem pesadamente nestes canais como ferramentas indispensáveis ao processo de disseminação dos seus propósitos. Basta ligarmos as tvs e os rádios nas vinte quatro horas do dia e da noite. Nas grandes e menores cidades eles estão dentro destes meios. Insistem oportuna e inoportunamente. Compram e buscam todas as possibilidades e horários para falarem ao povo, principalmente para tocar os mais vulneráveis, tanto socialmente, quanto psicologicamente. Buscam prosélitos. Os mecanismos midiáticos avançaram e agora as mídias sociais também são usadas por cada comunidade, sem ser olvidado o fortalecimento da relação personalizada.
3) – A presença em repartições nas quais estão pessoais em situação de sofrimento: os hospitais, presídios e outras lugares públicos, nas quais estão pessoas em situação de dor e abandono também são objetos das inventivas do pentecostalismo. A presença é constante e com profícuos resultados para os membros de cada comunidade. Essas comunidades estão aonde as demais instituições não desejam estar, inclusive a própria Igreja Católica, que é muito devedora dessa sua responsabilidade evangélica (cf. Mt 25, 31-46). A incisividade das chamadas à conversão, os batismos e adesões de mais adeptos a estes agrupamentos são numerosos. A estratégia de ocupar estes espaços, com todos os desafios que estão neles, é uma tática que tem dado certo às finalidades perseguidas pelas comunidades pentecostais.
4) – O poder político: existe na mentalidade e horizonte do pentecostalismo brasileiro um projeto de poder. Basta que contemplemos o cenário político do país. Desde às câmaras de vereadores até os cenários federais há as bancadas evangélicas, com suas pautas e interesses tribais. O que é de Cesar e o que é de deus estão junto e misturado. A política é um meio de fortalecimento do poder destes grupos nas estruturas de poder no país. Nesse ponto, há um projeto comum. Uma nação evangélica é o horizonte. Como a democracia é a forma de governo da maioria, com a maioria pentecostal, o foco é chegar ao topo da sistemática do poder, com um presidente ‘tremendamente’ evangélico. Esse é critério e é esta a ambição. A relação entre religião e política tornou-se promíscua e eivada de fundamentalismo religioso. Esse é próprio da época moderna como reflete Jurgen Habermas (cf. Fé e Saber, pág. 3). O abandono da racionalidade política é uma das marcas preocupantes deste cenário com seu histórico religioso.
5) – A centralidade da bíblia na pregação e ação missionária: a bíblia é, sem dúvida, o diferencial dos grupos pentecostais no seu crescimento numérico. As interpretações fundamentalistas são um método usado, com poder de inserção nas lacunas deixadas pela falta de aprimoramento cultural. A bíblia na mão de todos, a oportunidade do uso da palavra, o protagonismo da comunidade, o empenho missionário nas visitas as casas, o relacionamento com mais proximidade, a ajuda mútua nas necessidades são práticas que estão fazendo a diferença. A simplicidade das estruturas físicas e pessoais, com pouca burocracia eclesiástica e mais objetividade nas ações, é uma via que facilita a vida das pessoas, principalmente das mais pobres. Num país tão afligido pelas desigualdades e injustiças sociais, as promessas como alimento das esperanças dos que mais sofrem podem ser um instrumento de conquistas de mentes e corações. Todo ser humano precisa de algo em que sustentar-se. O pentecostalismo tem oferecido essa luz às camadas populares das nossas comunidades.
Enfim, a análise, sem dúvida, tem outras possibilidades. O que intento é provocar aprofundamentos pastorais dentro da própria Igreja Católica, que é chamada a recepcionar as proposições da V Conferência de Aparecida e as direções do magistério do Papa Francisco, principalmente as contidas na Alegria do Evangelho. A conversão missionária e a reforma das estruturas ainda precisam acontecer em nossas Igrejas Locais. O querido Papa Francisco nos ensina que evangelizar não é fazer proselitismo. Temos que rezar e ter profunda convicção missionária para sermos anunciadores do Boa Notícia do Reino de Deus. É uma urgência irmos a todos e falarmos simplesmente do amor de Nosso Salvador para cada ser humano.
1) – A presença nas periferias das grandes cidades: o Brasil viveu, principalmente depois da década de quarenta, um forte e numérico êxodo rural. As populações que viviam nas comunidades interioranas, por necessidades econômicas e estruturais, buscaram outros modos de subsistência nas cidades. Com isso, o crescimento das periferias das grandes cidades foi ganhando corpo e desafios geográficos e sociais. A Igreja não buscou uma adequação das suas atividades pastorais, considerando essa reviravolta demográfica. A sua conjuntura eclesial, ainda piramidal, sacramentalista e sacerdotalizada, com pouca abertura ao maior protagonismo missionário dos fiéis leigos e ao uso da Sagrada Escritura, além das celebrações litúrgicas, fez com que muitas lacunas fossem preenchidas pelos movimentos pentecostais. A Igreja acomodou-se ao que era vivido pelas tradições das religiosidades sazonais. Não percebeu que existia uma corrosão das camadas mais populares do catolicismo tradicional, que não tinham uma formação mais consistente acerca da Palavra de Deus e das verdades da fé sobre a própria Igreja, tornando-se assim vulneráveis aos apelos do neopentecostalismo.
2) – O uso intenso dos meios de comunicação: também depois da década de cinquenta à de sessenta, os meios de comunicação começam a ser apontados como as novas maravilhas da modernidade. A própria Igreja Católica o reconheceu no Concílio Vaticano II (cf. Inter Mirifica). Estes instrumentos podem massificar mensagens. O particular pode chegar ao todo. O mínimo pode tornar-se máximo. Os protestantes entenderam bem essa dinâmica e até os nossos dias investem pesadamente nestes canais como ferramentas indispensáveis ao processo de disseminação dos seus propósitos. Basta ligarmos as tvs e os rádios nas vinte quatro horas do dia e da noite. Nas grandes e menores cidades eles estão dentro destes meios. Insistem oportuna e inoportunamente. Compram e buscam todas as possibilidades e horários para falarem ao povo, principalmente para tocar os mais vulneráveis, tanto socialmente, quanto psicologicamente. Buscam prosélitos. Os mecanismos midiáticos avançaram e agora as mídias sociais também são usadas por cada comunidade, sem ser olvidado o fortalecimento da relação personalizada.
3) – A presença em repartições nas quais estão pessoais em situação de sofrimento: os hospitais, presídios e outras lugares públicos, nas quais estão pessoas em situação de dor e abandono também são objetos das inventivas do pentecostalismo. A presença é constante e com profícuos resultados para os membros de cada comunidade. Essas comunidades estão aonde as demais instituições não desejam estar, inclusive a própria Igreja Católica, que é muito devedora dessa sua responsabilidade evangélica (cf. Mt 25, 31-46). A incisividade das chamadas à conversão, os batismos e adesões de mais adeptos a estes agrupamentos são numerosos. A estratégia de ocupar estes espaços, com todos os desafios que estão neles, é uma tática que tem dado certo às finalidades perseguidas pelas comunidades pentecostais.
4) – O poder político: existe na mentalidade e horizonte do pentecostalismo brasileiro um projeto de poder. Basta que contemplemos o cenário político do país. Desde às câmaras de vereadores até os cenários federais há as bancadas evangélicas, com suas pautas e interesses tribais. O que é de Cesar e o que é de deus estão junto e misturado. A política é um meio de fortalecimento do poder destes grupos nas estruturas de poder no país. Nesse ponto, há um projeto comum. Uma nação evangélica é o horizonte. Como a democracia é a forma de governo da maioria, com a maioria pentecostal, o foco é chegar ao topo da sistemática do poder, com um presidente ‘tremendamente’ evangélico. Esse é critério e é esta a ambição. A relação entre religião e política tornou-se promíscua e eivada de fundamentalismo religioso. Esse é próprio da época moderna como reflete Jurgen Habermas (cf. Fé e Saber, pág. 3). O abandono da racionalidade política é uma das marcas preocupantes deste cenário com seu histórico religioso.
5) – A centralidade da bíblia na pregação e ação missionária: a bíblia é, sem dúvida, o diferencial dos grupos pentecostais no seu crescimento numérico. As interpretações fundamentalistas são um método usado, com poder de inserção nas lacunas deixadas pela falta de aprimoramento cultural. A bíblia na mão de todos, a oportunidade do uso da palavra, o protagonismo da comunidade, o empenho missionário nas visitas as casas, o relacionamento com mais proximidade, a ajuda mútua nas necessidades são práticas que estão fazendo a diferença. A simplicidade das estruturas físicas e pessoais, com pouca burocracia eclesiástica e mais objetividade nas ações, é uma via que facilita a vida das pessoas, principalmente das mais pobres. Num país tão afligido pelas desigualdades e injustiças sociais, as promessas como alimento das esperanças dos que mais sofrem podem ser um instrumento de conquistas de mentes e corações. Todo ser humano precisa de algo em que sustentar-se. O pentecostalismo tem oferecido essa luz às camadas populares das nossas comunidades.
Enfim, a análise, sem dúvida, tem outras possibilidades. O que intento é provocar aprofundamentos pastorais dentro da própria Igreja Católica, que é chamada a recepcionar as proposições da V Conferência de Aparecida e as direções do magistério do Papa Francisco, principalmente as contidas na Alegria do Evangelho. A conversão missionária e a reforma das estruturas ainda precisam acontecer em nossas Igrejas Locais. O querido Papa Francisco nos ensina que evangelizar não é fazer proselitismo. Temos que rezar e ter profunda convicção missionária para sermos anunciadores do Boa Notícia do Reino de Deus. É uma urgência irmos a todos e falarmos simplesmente do amor de Nosso Salvador para cada ser humano.
A evangelização tem que proporcionar o encontro pessoal com o Senhor. Mesmo não estando de acordo com muitos fins, podemos sim aprender algo com os irmãos e irmãs pentecostais: precisamos de coragem para pregar em cada momento e em todos os espaços. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório-Natal/RN
Capelão da UFRN
Pe. Matias Soares
Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório-Natal/RN
Capelão da UFRN
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