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Vacina contra dengue é pouco procurada nas UBSs

SÁBADO
18 JANEIRO
No momento em que o RN vive em quase situação de pandemia, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, chama a atenção este importante relato trazido pela tribuna do Norte. 
Com 432 casos prováveis de dengue nas duas primeiras semanas de 2025, o Rio Grande do Norte está em estado de alerta para uma epidemia de arboviroses, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). O aumento ainda não se refletiu no processo de imunização das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Natal, que registram baixa procura. Nessas unidades, podem ser vacinados apenas crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos. A vacina, no entanto, está disponível para pessoas com idades entre 4 e 60 anos na rede privada, que tem constatado alta na busca pelo imunizante Qdenga em janeiro nas clínicas da capital.
Na Universo Vacinas, a procura já aumentou em mais de 50% em relação a janeiro de 2024, de acordo com Graça Oliveira, proprietária e enfermeira da clínica. “Durante esse período de veraneio, esse é um processo que começa a se intensificar, porque as pessoas vão para regiões de praia e costumam fazer um contato maior com o mosquito da dengue”, afirma. Na Amo Vacinas, a procura, que não era registrada havia alguns meses, voltou a ser observada este mês. “A gente colocava o imunizante no orçamento e as mães pediam para tirar”, comenta Lívia Vieira, responsável técnica e uma das proprietárias da clínica.
“Agora, essa busca voltou a acontecer, embora de uma forma ainda pouco expressiva”, completa Vieira. Nas Unidades Básicas de Saúde, que atendem somente crianças e adolescentes, a imunização segue tímida. Na UBS do Alecrim, a média de aplicação diária da Qdenga é de apenas duas doses. Por conta disso, a unidade tem evitado solicitar novas remessas para evitar perdas. Lucineide Ferreira, responsável técnica da UBS, alerta ainda que o número de crianças com o esquema vacinal incompleto (o esquema é composto por duas doses) é alto. “Além da baixa procura, tem muitos pais que trazem os filhos uma vez e depois não retornam para a segunda”, pontua.
De acordo com ela, 28 doses estão disponíveis, número que permite suprir a demanda atual sem que haja risco de vencimento de prazo de validade. “Se aumentar a procura, a gente solicita novas doses”, relata Ferreira. Na UBS São João, no Tirol, as buscas pela vacina também são consideradas baixas. “O máximo que a gente consegue fazer são cinco doses por dia”, comenta Micarla Costa, técnica de enfermagem da unidade. Por lá, há pouco mais de 200 doses disponíveis. “Felizmente, o prazo de validade está para julho, então, no momento, não temos essa preocupação com perdas”, diz Costa.
A filha do auxiliar de serviços gerais Jorge Luiz teve dengue em fevereiro do ano passado. Iolanda, de 9 anos, está fora da faixa etária contemplada pelo plano de imunização do Sistema Único de Saúde (SUS), que é dos 10 aos 14 anos. O Governo Federal justificou a escolha do público-alvo alegando que esta é a faixa que apresenta maior risco de agravamento para a doença. “Ela começou tendo febre, depois apareceram pequenos caroços avermelhados nas pernas. Levamos a menina à UPA e foi constado que era dengue”, conta Jorge.
Sem ser contemplada pelo SUS, a alternativa seria o atendimento na rede privada, onde uma única dose custa a partir de R$ 450. Sem a imunização, Jorge se diz aliviado ao menos pelo fato de a doença não ter se agravado. “Deu febre, dor de cabeça e cinco meses depois o cabelo teve uma grande queda. A médica disse que ainda era efeito da dengue. Mas, graças a Deus ela não teve sintomas piores. Na UPA, tomou soro e remédios para aliviar os sintomas”, descreve o auxiliar de serviços gerais.
RN recebeu 40 mil doses do governo federal
A Secretaria de Estado da Saúde Pública recebeu 40 mil vacinas da Qdenga do Ministério da Saúde e deve iniciar a distribuição em breve para os municípios. Segundo Diana Rêgo, coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap, os critérios estão sendo definidos junto aos municípios. A faixa etária utilizada no ano passado deve ser mantida para este ano, com público-alvo entre 10 e 14 anos.
“O que vamos fazer é ampliar o número de municípios que vão receber as doses, porque alguns deles não querem receber a vacina”, apontou Diana. O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. O Ministério da Saúde incorporou a vacina, conhecida como Qdenga, em dezembro de 2023. A inclusão foi analisada pela Comissão de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec) e passou por todas as avaliações da comissão, que recomendaram a incorporação. O esquema vacinal é composto por duas doses.
Já na rede privada, as clínicas têm encontrado dificuldade para a aquisição do imunizante. Na Amo Vacinas, por exemplo, todos os frascos disponíveis são para aplicações somente da segunda dose. “A grande parte desse insumo foi vendido para o sistema público. Então, hoje a gente tem um desabastecimento aqui na clínica. Estamos tentando adquirir, mas nenhum distribuidor tem a vacina. Nos prometeram [novos frascos] para fevereiro. Em razão disso, a gente costuma oferecer um pacote já com a duas doses – após a aplicação da primeira, a segunda já fica reservada. Então, tudo que eu tenho na minha câmara fria, atualmente, é para a dose dois”, descreve Lívia Vieira, da Amo Vacinas.
Ubirajara Aguiar, administrador da Universo Vacinas diz que espera escassez de doses à medida que a procura pelo imunizante aumentar. “Só existe um laboratório fabricante da Qdenga (Takeda). Este mês, comprei apenas seis doses – isso porque sou um comprador habitual e eles estão liberando de acordo com a média da compra anterior. O laboratório diz que vai regularizar a situação, mas, nos distribuidores isso ainda não aconteceu”, aponta o administrador.
Para evitar ficar sem a imunização, aponta Graça Oliveira, o ideal é que as pessoas procurem se vacinar o quanto antes. “A indicação é tomar [a vacina] antes das chuvas. Então, as pessoas precisam procurar proteção, quer seja numa clínica privada, quer seja no SUS (se estiver na faixa etária contemplada pelo Sistema). Deve-se, portanto, procurar o quanto antes. Quando chegar a sazonalidade e a doença se espalhar, a procura vai ser maior tanto no SUS como na rede privada e o laboratório vai ficar sobrecarregado”, adverte a enfermeira.
Esquema vacinal tem duas doses
O esquema vacinal da Qdenga é composto por duas doses, com intervalo de três meses entre ambas. Quem já teve dengue deve se imunizar para evitar nova infecção, ou, em caso de contágio, prevenir sintomas graves. A enfermeira Graça Oliveira explica que não há registros de efeitos adversos sérios provocados pelo imunizante. “Os efeitos são apenas dor no local da aplicação – o que é normal – e febre, decorrente de alguma resposta imunológica. Nenhum evento sério foi observado”, afirma. Quem foi infectado deve aguardar seis meses, após o registro da doença, para se imunizar.
As contraindicações são para gestantes, lactantes e pessoas com imunodeficiência. Na rede pública da capital, as vacinas podem ser aplicadas de segunda a sexta-feira, conforme o funcionamento das Unidades Básicas de Saúde. “A gente faz um apelo para que pais e responsáveis tragam as crianças para a vacinação. E aqueles que já tomaram a primeira dose, precisam da segunda. Sem ela, o esquema está incompleto. Também é importante evitar atrasos – tem crianças com períodos de seis a nove meses de atraso”, destaca Micarla Costa, da UBS São João, no Tirol.
Limpeza
Além da prevenção pela vacina, os cuidados para eliminar os criadouros do mosquito transmissor da dengue (Aedes aegypti) seguem como medida importante. Para isso, deve-se eliminar água parada em pneus, latas e garrafas, realizar a limpeza regular da caixa d’água ao mesmo tempo em que ela deve ser mantida sempre fechada, verificar calhas, eliminar entulhos do quintal, colocar o lixo em sacos plásticos e deixar a lixeira fechada, bem como cuidar de terrenos, e outras medidas.
Por causa da situação de alerta de epidemia, a Sesap antecipou, nesta semana, a instalação do Centro de Operações de Emergência em Saúde (CES) para dengue e outras arboviroses, numa ação que deverá ser integrada por uma série de secretarias e municípios. A ideia é unir esforços para evitar casos graves e óbitos. Em 2024, o Estado registrou dois óbitos de dengue e três de chikungunya. Fonte: Tribuna do Norte.

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