17 MARÇO
Uma das principais provas que ajudaram a atestar a inocência das professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira, presas injustamente, em fevereiro de 2024, sob a falsa acusação de maus tratos, tortura e violência psicológica contra as duas filhas adotivas delas, foi o depoimento de 21 testemunhas confirmando que elas, como escreveu a juíza na sentença, “cumpriram, devidamente, os deveres de sustento, guarda e educação das filhas”.
Em entrevista exclusiva à Agência Saiba Mais, as professoras falaram pela primeira vez após a sentença de absolvição, proferida no dia 7 de novembro de 2024.
Uma das principais provas que ajudaram a atestar a inocência das professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira, presas injustamente, em fevereiro de 2024, sob a falsa acusação de maus tratos, tortura e violência psicológica contra as duas filhas adotivas delas, foi o depoimento de 21 testemunhas confirmando que elas, como escreveu a juíza na sentença, “cumpriram, devidamente, os deveres de sustento, guarda e educação das filhas”.
Em entrevista exclusiva à Agência Saiba Mais, as professoras falaram pela primeira vez após a sentença de absolvição, proferida no dia 7 de novembro de 2024.
Vândiner e Ivana ficaram presas por mais de três semanas, inicialmente no Centro de Detenção Provisória Feminino de Parnamirim, mas depois foram transferidas para a Penitenciária João Chaves, na zona Norte de Natal.
As mães adotivas declaram que a absolvição, depois de serem expostas, presas preventivamente e condenadas antecipadamente pelo tribunal da opinião pública, representou um alívio, embora não repare completamente a injustiça da qual foram vítimas.
Na sentença de absolvição, a juíza registrou que as “provas extensamente produzidas durante a instrução deste processo” demonstraram de forma “clara, coerente e em harmonia com a prova testemunhal e documental” que as mães adotivas “proporcionaram um ambiente familiar de amor, diálogo, compreensão, acolhimento, respeito e valorização” durante todo o tempo de convívio com as adolescentes.
Relação entre mães e filhas “sempre foi muito boa”, disse professor da UFRN
A juíza ressaltou que um professor da UFRN relatou que “conviveu várias vezes com as mães e frequentou a casa em momentos em que as meninas estavam na casa e que nunca reparou nada de ‘anormal’”.
A relação entre as mães e as filhas adotivas, segundo testemunhou o professor, “sempre foi uma boa”, acrescentando ser amigo das duas mulheres há muitos anos e que elas sempre quiseram ser mães”.
O professor disse não ter presenciado “momentos ou sinais de maus-tratos, de agressão, de grito e de violência”. Ele também afirmou que acompanhou as “angústias” sofridas pelas mães adotivas quando as duas irmãs “começaram a dar trabalho”, mas acrescentou que considerava que “eram coisas próprias da adolescência”.
A testemunha relatou, ainda, que as meninas “costumavam mentir muito” sobre situações envolvendo a escola, incluindo “objetos que traziam da escola” que pertenciam a “uma determinada colega”. Em razão disso, segundo o depoimento, “as mães sempre relatavam e mostravam que aquilo era errado”.
Em relação à acusação de que as mães submeteriam as filhas a “trabalho escravo”, o professor afirmou que as tarefas realizadas pelas irmãs “nunca foram algo exorbitante e que nunca tirou das meninas os seus momentos de lazer, estudo e de descanso”.
Ele também declarou que “nunca presenciou brigas das mães com as meninas e que nunca pareceram desnutridas”. Ivana, segundo narrou ele, “sempre teve um cuidado para que as meninas praticassem atividade física e para que o sobrepeso [delas] não se tornasse um problema de saúde”.
As duas meninas, além de plano de saúde e acompanhamento médico, estudavam em escola particular e eram acompanhadas de perto na escola pelas mães, que as ajudaram a superar as dificuldades que apresentavam com a leitura e a escrita ao serem adotadas, em outubro de 2021, quando tinham 9 e 12 anos de idade.
Funcionária da escola onde meninas estudavam atestou que nunca percebeu sinais de agressão
Outro depoimento importante foi o de uma funcionária da escola onde as meninas estudaram até o final de 2023. Ela afirmou que as irmãs “eram participativas, tinham uma boa convivência com os outros alunos” e “tinham acompanhamento e participação ativa das mães”.
A funcionária afirmou que “não notou nenhuma diferença de comportamento das mães para com as meninas” e que elas “ficaram bem emocionadas com uma apresentação do dia das mães” e “nunca presenciou as meninas sofrendo bullying na escola”.
De acordo ainda com a funcionária, as meninas nunca procuraram as psicólogas da escola para relatar qualquer agressão. Ela também disse que tinha contato frequente com os alunos e as alunas, mas “nunca observou que elas poderiam ser vítimas de violência”, “nunca viu marcas de violência física” nelas e que “existe um procedimento para verificar esses tipos de casos de violência, caso fosse necessário”.
Por fim, a funcionária atestou que as duas tinham “uma boa frequência escolar” e que “elas tinham boas notas”.
Vizinha das mães adotivas disse que nunca percebeu nada “anormal” que indicasse que meninas sofriam violência
Já uma moradora do mesmo condomínio onde as meninas moravam com as mães em Parnamirim asseverou que sua filha era amiga de uma delas e que “frequentemente brincavam juntas”, sem nunca ter percebido “nada de ‘anormal’ no sentido de que ela possa pra sofrer algum tipo de violência”.
A testemunha, uma enfermeira especialista em saúde da família e saúde coletiva, trabalhando diretamente com famílias, afirmou que “saberia dizer se a criança estivesse sofrendo algum tipo de violência”, mas nunca reparou em contato direto com a amiga da sua filha algum sinal de desnutrição.
A enfermeira também disse que observou, nos momentos que teve contato com elas, que as mães tinham “um relacionamento padrão de família” e que viu as meninas nas áreas comuns do condomínio enquanto as mães estavam viajando.
De acordo com o relato da testemunha, as meninas “estavam felizes e brincando”. A enfermeira revelou também que, nesse mesmo período, sua filha comentou que achava que a cuidadora contratada pelas duas mães adotivas era “muito homofóbica”, porque ouviu ela fazer comentários dizendo, por exemplo, que “não concordava com a união de duas mulheres”.
A filha da vizinha, ainda segundo o depoimento da mãe, disse à mãe que ficou constrangida com a conversa da cuidadora.
Para Vândiner e Ivana, a homofobia foi uma das motivações que levou a cuidadora a fazer a denúncia que culminou com a prisão delas.
Ao Conselho Tutelar, meninas não relataram maus-tratos nem violência
Um membro do Conselho Tutelar de Parnamirim afirmou em seu depoimento que as meninas passaram pelo corpo técnico do órgão, mas não alegaram nada.
O conselheiro relatou que, certo dia, a polícia acionou o órgão informando que uma das meninas estava na delegacia em razão de um furto cometido em um supermercado de Parnamirim.
A adolescente, segundo a polícia, se negou a informar seu endereço e, somente após acionar o Conselho Tutelar, ela disse onde residia. As mães relataram aos policiais outras mentiras da adolescente.
“A mentira era recorrente para as duas”, disse Vândiner acrescentando que elas se envolveram em outras situações de furto, tanto em casa quanto na rua.
Juíza disse que “afirmações das vítimas não estão amparadas em elementos mínimos de prova”
Depois de ouvir os depoimentos, tanto de acusação quanto de defesa, a juíza considerou que “as testemunhas que atestaram a ocorrência de possível violência, disseram que ouviram falar acerca das agressões, como pontuado pela defesa, não podendo, assim, servir como base para um decreto condenatório”.
“As próprias afirmações das vítimas”, prosseguiu a magistrada, “não estão amparadas em elementos mínimos de prova e existe fundada dúvida quanto à veracidade das alegações”.
“Já no que se refere ao crime de maus-tratos, para a sua caracterização, como é sabido, exige-se a demonstração de que a conduta do agente expôs a risco a vida ou a saúde da vítima”, escreveu a juíza.
Em trecho da sentença, a juíza ressaltou que “a instrução cuidadosa, atenta e pacientemente realizada ao longo deste processo, deixou claro a esta magistrada que as acusadas, em momento algum, violaram, de qualquer forma, os direitos das adolescentes em tela, tratando-se, em verdade, de duas mulheres, educadoras por profissão, que se propuseram a adotar uma criança e uma adolescente em idade já avançada em relação ao perfil mais procurado para adoção, pretas, oriundas de outro Estado da Federação, assumindo o desafio de construírem um vínculo sólido e comprometido de amor e de cuidado, capazes de propiciarem o sentimento de pertencimento e de promoverem socialmente as infantes e que, efetivamente, empreenderam tempo, dedicação, esforços pessoais e recursos financeiros para o alcance desse objetivo”.
Repercussão
A reportagem exclusiva da Agência Saiba sobre a absolvição das duas mães adotivas repercutiu politicamente. O vereador Daniel Valença (PT), em postagem no X, antigo Twitter, disse ter ficado “surpreendido” com a matéria revelando que “as mães professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira foram absolvidas desde novembro de 2024, mas não tiveram o mesmo direito à visibilidade que tiveram quando foram execradas e presas”.
“Pagaram por serem lésbicas, de esquerda e parte da universidade pública. Toda a nossa solidariedade e apoio para que essa notícia chegue a toda a população”, escreveu o vereador.
A vereadora Samanda Alves (PT) também comentou a reportagem afirmando que a “justiça foi feita”.
“As professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira foram absolvidas das graves acusações que enfrentaram. A sentença põe fim a um caso marcado por injustiça e exposição midiática”, comentou a vereadora.
Ano de inferno
Ivana disse que, após a sentença, se sentiu “voltando à vida” e que a absolvição representou um “renascimento”.
Já Vândiner afirmou que elas tiveram um “ano de inferno” desde quando foram presas. A professora relatou que ela e sua companheira tiveram “estresse pós-traumático e depressão” e que continuam sofrendo muito porque “só agora a mídia está mostrando o outro lado da nossa história”, citando que a única exceção foi uma reportagem da Agência Saiba Mais feita à época da prisão delas.
Para Vândiner, a juíza foi “muito sensível” durante a escuta dos depoimentos delas. “Ela nos disse que nós merecíamos ter a absolvição por escrito, porque o que nós vivemos nunca vai ter nenhuma reparação”.
“Felizmente temos isso [a sentença] por escrito, que foi publicado em partes pela Saiba Mais”, comentou.
“Não nos arrependemos da adoção”, disse Ivana
Ivana disse que os momentos mais difíceis para elas foram os dias de prisão, mas que nem isso fez com que elas se arrependessem da adoção, que para elas é um “ato de amor”.
“É uma loucura você pensar que é inocente, que você não fez absolutamente nada, que você foi movida pelo amor, a adoção para nós sempre foi um ato de amor, nós nunca nos arrependemos da adoção, mas estávamos encarceradas. Tivemos a sensação de desumanização na cadeia”, desabafou.
Apesar de não se arrependerem da adoção, após serem absolvidas de todas as acusações as mãe disseram que o retorno das meninas à casa delas era impossível, uma vez que foi foram as mentiras das filhas que as levaram à prisão.
A partir da resposta do casal, houve a destituição do poder familiar, mas, como a adoção é irrevogável, as duas irmãs continuam sendo legalmente filhas de Vândiner e Ivana.
As meninas ficaram sob a tutela do Estado, mas em janeiro desse ano, não se sabe como, fugiram para Santa Catarina, onde estão morando com o pai biológico.
Caso abalou vida profissional, disse Vândiner
Vândiner acrescentou que sua vida profissional foi muito abalada, especialmente por ela trabalhar com temas como direitos humanos, a questão da negritude e os direitos da mulher e da sexualidade.
“Para mim, ser acusada das coisas que eu fui acusada é uma destruição muito grande que eu espero reconstruir agora que a verdade apareceu”, declarou.
A respeito de eventuais medidas legais, ela disse que ainda está conversando com seus advogados, mas afirmou esperar que “algo aconteça no futuro”. Fonte: Portal Saiba Mais.
As mães adotivas declaram que a absolvição, depois de serem expostas, presas preventivamente e condenadas antecipadamente pelo tribunal da opinião pública, representou um alívio, embora não repare completamente a injustiça da qual foram vítimas.
Na sentença de absolvição, a juíza registrou que as “provas extensamente produzidas durante a instrução deste processo” demonstraram de forma “clara, coerente e em harmonia com a prova testemunhal e documental” que as mães adotivas “proporcionaram um ambiente familiar de amor, diálogo, compreensão, acolhimento, respeito e valorização” durante todo o tempo de convívio com as adolescentes.
Relação entre mães e filhas “sempre foi muito boa”, disse professor da UFRN
A juíza ressaltou que um professor da UFRN relatou que “conviveu várias vezes com as mães e frequentou a casa em momentos em que as meninas estavam na casa e que nunca reparou nada de ‘anormal’”.
A relação entre as mães e as filhas adotivas, segundo testemunhou o professor, “sempre foi uma boa”, acrescentando ser amigo das duas mulheres há muitos anos e que elas sempre quiseram ser mães”.
O professor disse não ter presenciado “momentos ou sinais de maus-tratos, de agressão, de grito e de violência”. Ele também afirmou que acompanhou as “angústias” sofridas pelas mães adotivas quando as duas irmãs “começaram a dar trabalho”, mas acrescentou que considerava que “eram coisas próprias da adolescência”.
A testemunha relatou, ainda, que as meninas “costumavam mentir muito” sobre situações envolvendo a escola, incluindo “objetos que traziam da escola” que pertenciam a “uma determinada colega”. Em razão disso, segundo o depoimento, “as mães sempre relatavam e mostravam que aquilo era errado”.
Em relação à acusação de que as mães submeteriam as filhas a “trabalho escravo”, o professor afirmou que as tarefas realizadas pelas irmãs “nunca foram algo exorbitante e que nunca tirou das meninas os seus momentos de lazer, estudo e de descanso”.
Ele também declarou que “nunca presenciou brigas das mães com as meninas e que nunca pareceram desnutridas”. Ivana, segundo narrou ele, “sempre teve um cuidado para que as meninas praticassem atividade física e para que o sobrepeso [delas] não se tornasse um problema de saúde”.
As duas meninas, além de plano de saúde e acompanhamento médico, estudavam em escola particular e eram acompanhadas de perto na escola pelas mães, que as ajudaram a superar as dificuldades que apresentavam com a leitura e a escrita ao serem adotadas, em outubro de 2021, quando tinham 9 e 12 anos de idade.
Funcionária da escola onde meninas estudavam atestou que nunca percebeu sinais de agressão
Outro depoimento importante foi o de uma funcionária da escola onde as meninas estudaram até o final de 2023. Ela afirmou que as irmãs “eram participativas, tinham uma boa convivência com os outros alunos” e “tinham acompanhamento e participação ativa das mães”.
A funcionária afirmou que “não notou nenhuma diferença de comportamento das mães para com as meninas” e que elas “ficaram bem emocionadas com uma apresentação do dia das mães” e “nunca presenciou as meninas sofrendo bullying na escola”.
De acordo ainda com a funcionária, as meninas nunca procuraram as psicólogas da escola para relatar qualquer agressão. Ela também disse que tinha contato frequente com os alunos e as alunas, mas “nunca observou que elas poderiam ser vítimas de violência”, “nunca viu marcas de violência física” nelas e que “existe um procedimento para verificar esses tipos de casos de violência, caso fosse necessário”.
Por fim, a funcionária atestou que as duas tinham “uma boa frequência escolar” e que “elas tinham boas notas”.
Vizinha das mães adotivas disse que nunca percebeu nada “anormal” que indicasse que meninas sofriam violência
Já uma moradora do mesmo condomínio onde as meninas moravam com as mães em Parnamirim asseverou que sua filha era amiga de uma delas e que “frequentemente brincavam juntas”, sem nunca ter percebido “nada de ‘anormal’ no sentido de que ela possa pra sofrer algum tipo de violência”.
A testemunha, uma enfermeira especialista em saúde da família e saúde coletiva, trabalhando diretamente com famílias, afirmou que “saberia dizer se a criança estivesse sofrendo algum tipo de violência”, mas nunca reparou em contato direto com a amiga da sua filha algum sinal de desnutrição.
A enfermeira também disse que observou, nos momentos que teve contato com elas, que as mães tinham “um relacionamento padrão de família” e que viu as meninas nas áreas comuns do condomínio enquanto as mães estavam viajando.
De acordo com o relato da testemunha, as meninas “estavam felizes e brincando”. A enfermeira revelou também que, nesse mesmo período, sua filha comentou que achava que a cuidadora contratada pelas duas mães adotivas era “muito homofóbica”, porque ouviu ela fazer comentários dizendo, por exemplo, que “não concordava com a união de duas mulheres”.
A filha da vizinha, ainda segundo o depoimento da mãe, disse à mãe que ficou constrangida com a conversa da cuidadora.
Para Vândiner e Ivana, a homofobia foi uma das motivações que levou a cuidadora a fazer a denúncia que culminou com a prisão delas.
Ao Conselho Tutelar, meninas não relataram maus-tratos nem violência
Um membro do Conselho Tutelar de Parnamirim afirmou em seu depoimento que as meninas passaram pelo corpo técnico do órgão, mas não alegaram nada.
O conselheiro relatou que, certo dia, a polícia acionou o órgão informando que uma das meninas estava na delegacia em razão de um furto cometido em um supermercado de Parnamirim.
A adolescente, segundo a polícia, se negou a informar seu endereço e, somente após acionar o Conselho Tutelar, ela disse onde residia. As mães relataram aos policiais outras mentiras da adolescente.
“A mentira era recorrente para as duas”, disse Vândiner acrescentando que elas se envolveram em outras situações de furto, tanto em casa quanto na rua.
Juíza disse que “afirmações das vítimas não estão amparadas em elementos mínimos de prova”
Depois de ouvir os depoimentos, tanto de acusação quanto de defesa, a juíza considerou que “as testemunhas que atestaram a ocorrência de possível violência, disseram que ouviram falar acerca das agressões, como pontuado pela defesa, não podendo, assim, servir como base para um decreto condenatório”.
“As próprias afirmações das vítimas”, prosseguiu a magistrada, “não estão amparadas em elementos mínimos de prova e existe fundada dúvida quanto à veracidade das alegações”.
“Já no que se refere ao crime de maus-tratos, para a sua caracterização, como é sabido, exige-se a demonstração de que a conduta do agente expôs a risco a vida ou a saúde da vítima”, escreveu a juíza.
Em trecho da sentença, a juíza ressaltou que “a instrução cuidadosa, atenta e pacientemente realizada ao longo deste processo, deixou claro a esta magistrada que as acusadas, em momento algum, violaram, de qualquer forma, os direitos das adolescentes em tela, tratando-se, em verdade, de duas mulheres, educadoras por profissão, que se propuseram a adotar uma criança e uma adolescente em idade já avançada em relação ao perfil mais procurado para adoção, pretas, oriundas de outro Estado da Federação, assumindo o desafio de construírem um vínculo sólido e comprometido de amor e de cuidado, capazes de propiciarem o sentimento de pertencimento e de promoverem socialmente as infantes e que, efetivamente, empreenderam tempo, dedicação, esforços pessoais e recursos financeiros para o alcance desse objetivo”.
Repercussão
A reportagem exclusiva da Agência Saiba sobre a absolvição das duas mães adotivas repercutiu politicamente. O vereador Daniel Valença (PT), em postagem no X, antigo Twitter, disse ter ficado “surpreendido” com a matéria revelando que “as mães professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira foram absolvidas desde novembro de 2024, mas não tiveram o mesmo direito à visibilidade que tiveram quando foram execradas e presas”.
“Pagaram por serem lésbicas, de esquerda e parte da universidade pública. Toda a nossa solidariedade e apoio para que essa notícia chegue a toda a população”, escreveu o vereador.
A vereadora Samanda Alves (PT) também comentou a reportagem afirmando que a “justiça foi feita”.
“As professoras Vândiner Ribeiro e Ivana Teixeira foram absolvidas das graves acusações que enfrentaram. A sentença põe fim a um caso marcado por injustiça e exposição midiática”, comentou a vereadora.
Ano de inferno
Ivana disse que, após a sentença, se sentiu “voltando à vida” e que a absolvição representou um “renascimento”.
Já Vândiner afirmou que elas tiveram um “ano de inferno” desde quando foram presas. A professora relatou que ela e sua companheira tiveram “estresse pós-traumático e depressão” e que continuam sofrendo muito porque “só agora a mídia está mostrando o outro lado da nossa história”, citando que a única exceção foi uma reportagem da Agência Saiba Mais feita à época da prisão delas.
Para Vândiner, a juíza foi “muito sensível” durante a escuta dos depoimentos delas. “Ela nos disse que nós merecíamos ter a absolvição por escrito, porque o que nós vivemos nunca vai ter nenhuma reparação”.
“Felizmente temos isso [a sentença] por escrito, que foi publicado em partes pela Saiba Mais”, comentou.
“Não nos arrependemos da adoção”, disse Ivana
Ivana disse que os momentos mais difíceis para elas foram os dias de prisão, mas que nem isso fez com que elas se arrependessem da adoção, que para elas é um “ato de amor”.
“É uma loucura você pensar que é inocente, que você não fez absolutamente nada, que você foi movida pelo amor, a adoção para nós sempre foi um ato de amor, nós nunca nos arrependemos da adoção, mas estávamos encarceradas. Tivemos a sensação de desumanização na cadeia”, desabafou.
Apesar de não se arrependerem da adoção, após serem absolvidas de todas as acusações as mãe disseram que o retorno das meninas à casa delas era impossível, uma vez que foi foram as mentiras das filhas que as levaram à prisão.
A partir da resposta do casal, houve a destituição do poder familiar, mas, como a adoção é irrevogável, as duas irmãs continuam sendo legalmente filhas de Vândiner e Ivana.
As meninas ficaram sob a tutela do Estado, mas em janeiro desse ano, não se sabe como, fugiram para Santa Catarina, onde estão morando com o pai biológico.
Caso abalou vida profissional, disse Vândiner
Vândiner acrescentou que sua vida profissional foi muito abalada, especialmente por ela trabalhar com temas como direitos humanos, a questão da negritude e os direitos da mulher e da sexualidade.
“Para mim, ser acusada das coisas que eu fui acusada é uma destruição muito grande que eu espero reconstruir agora que a verdade apareceu”, declarou.
A respeito de eventuais medidas legais, ela disse que ainda está conversando com seus advogados, mas afirmou esperar que “algo aconteça no futuro”. Fonte: Portal Saiba Mais.
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